sexta-feira, 28 de maio de 2010

CIÚMES: DA "NORMALIDADE" AOS TRANSTORNOS DOENTIOS.

Quanto já se escreveu sobre esse sentimento que se, por um lado, pode promover a “liga” da relação, por outro, pode conduzir ao “desligamento” de tudo, posto que traz insegurança, discórdia, inimizades e rupturas! Detenho-me hoje a divagar sobre este tema na expectativa, obviamente, não de esgotar o assunto, mas de contribuir para que, novamente, seja o ciúme colocado na pauta de discussão. Matéria publicada no site Opinião e Notícias, postada por Fernanda Dias em 03/01/2010 evidencia algo sobre ciúmes e seus transtornos que julgo bastante interessante. Vamos ao conteúdo da matéria:
“No início do relacionamento tudo são flores, até que ele vem chegando devagarzinho, aparecendo em pequenas situações corriqueiras e, de repente, vira motivo de brigas frequentes e acaba colocando em risco o romance que parecia tão promissor. Definido como tempero do amor, o ciúme pode até mesmo virar doença e estragar a vida de quem sente e a de quem é objeto desse sentimento. O psiquiatra Eduardo Ferreira - Santos autor dos livros Ciúme – O medo da perda e Ciúme – O lado amargo do amor, defende que, embora seja muito comum, o ciúme não pode ser considerado normal, no sentido de saudável, pois sempre revela uma fragilidade pessoal: “Desde uma personalidade insegura até mesmo um transtorno obsessivo-compulsivo podem estar atrás de uma manifestação de ciúme, de posse, de medo de perder alguém ou de ser passado para trás”, ressalta. O grau de ciúme e o nível de autoestima estão estritamente ligados para a estudante de Comunicação Social Regina Luft, de 23 anos. Ela revela que, quando está bem consigo mesma, um fato que certamente geraria dor de cabeça para o casal acaba virando motivo de piada: “Teve uma vez que uma menina deu mole descaradamente para ele, quase o agarrou, e eu ri da situação. Na hora, ele me olhou apreensivo, já esperando por uma reação desconfortável e eu fiquei debochando. Mas, isso aconteceu porque eu estava muito bem, me sentido bonita, com autoestima alta. Quando estou para baixo, pequenas coisas são motivo para eu ter crises de ciúme”, relata Regina. Segundo o psicólogo e especialista em dificuldades do relacionamento amoroso, Thiago de Almeida, o ciúme pode aparecer como efeito colateral de alguma fase no trabalho ou até mesmo da administração de um medicamento que cause aumento temporário de ansiedade, pois tal sentimento está relacionado com insegurança e ansiedade. Mas, quando a frequência desse comportamento passa incomodar a dinâmica do casal é sinal de que algo está errado: “Por exemplo, telefonemas excessivos percebidos por quem os recebe pode indicar uma anormalidade. Quem os faz sempre alegará zelo, preocupação, manutenção da relação, ou seja, não reconhecerá qualquer comportamento desviante”. Ferreira-Santos explica que, em situações extremas, a pessoa perde totalmente o contato com a realidade e aquilo que é apenas uma fantasia derivada do medo se transforma em uma realidade delirante. Nesses casos, a pessoa não apenas desconfia do outro, mas tem uma certeza de que está sendo traído sem nenhuma evidência concreta. Independentemente de as evidências serem reais ou imaginárias, em muitos casos, o ciumento acaba partindo para a agressão para defender “o que é seu”. Foi o que aconteceu em meados de setembro, quando o ex-deputado pelo Mato Grosso do Sul Pedro Pedrossian entrou na sala de aula do professor de filosofia da UFRJ André Martins e o agrediu a socos por ciúme da mulher Ana Cássia Nogueira Vieira, de 25 anos. Segundo Ferreira-Santos, o ciumento teme que, de alguma forma, possa perder o controle sobre a pessoa que julga ser sua propriedade única, exclusiva e eterna. “O elemento principal aqui é o sentimento de exclusão”, afirma ele. O ciúme pode prejudicar tanto um relacionamento que até mesmo o parceiro passa a sofrer psicologicamente. Em junho deste ano, um crime aparentemente passional chamou a atenção do país: Alessandra D’ávila, de 35 anos, matou o marido, o empresário Renato Biasotto, no apartamento que eles moravam em um edifício de luxo da Barra da Tijuca. À Rádio CBN, Eduardo Pedrosa, que estava com o casal antes do crime, disse que Renato era obcecado pela mulher e que a causa do crime deve ter sido ciúme. Na véspera do assassinato, Alessandra participou de uma comemoração de Dia dos Namorados com um grupo de amigos e publicou as fotos do encontro no site de relacionamentos Orkut. “A pessoa ciumenta, que apresenta transtornos ou de personalidade ou neuróticos, pode, a partir de uma simples desconfiança desenvolver um quadro de intenso sofrimento psicológico para si mesma e para o outro, tomando atitudes agressivas e desmedidas que, no limite, podem chegar aos chamados “crimes passionais”, afirma Ferreira-Santos. O especialista explica que o ciumento sente-se ameaçado por uma terceira pessoa com a qual, consciente ou inconscientemente, entra em uma competição e se julga inferior a ela. “É só lembrar a famosa peça do Nelson Rodrigues Perdoa-me por me traíres em que fica clara a situação de inferioridade na qual se coloca a pessoa que julga que seu parceiro possa encontrar alguém melhor do que ele, seja para uma relação estável (medo da perda), seja para uma relação sexual eventual (medo de o seu próprio desempenho sexual ser insuficiente para satisfazer o parceiro)”.
Segundo Ferreira-Santos quatro são os tipos de ciumentos:
Zeloso – O zeloso tem no zelo a verdadeira prova de amor, pois é um sentimento altruísta, voltado para o bem estar do outro, acompanhado de carinho e afeto pela verdadeira possibilidade do outro ser na vida.
Enciumado – O enciumando é aquele que, em uma situação eventual, entra em contato com sua própria insegurança perante a presença de um terceiro que, de fato, apresente alguma ameaça aos seus valores pessoais. É um estado transitório e deve ser trabalhado dentro de si mesmo e com o/a parceiro/a, reconhecendo que se está com ele/ela é porque há muitas outras características que o/a tornam realmente querido/a.
Ciumento – O ciumento é, geralmente, uma pessoa possessiva, insegura de si e de seus valores, que imagina ser passível de abandono ou traição. Vê em qualquer ação independente de seu companheiro uma ameaça à relação e sofre imaginando que pode ser traído ou abandonado devido à sua insignificância.
Delirante – O ciumento patológico ou delirante é aquela pessoa que apresenta um real transtorno mental, no nível físico, cerebral (tipo arterioesclerose, esclerose alcoólica, demências em geral) que acredita delirantemente que o outro possa abandoná-lo ou traí-lo. É a chamada “Síndrome de Otelo”.
O ciúme é sentimento comum entre os que amam. Mas devemos estar atentos, nós que amamos, com os estágios desse sentimento: nos dois primeiros tipos, a pessoa situa-se como zelosa e enciumada, tudo muito "normal" e até, aparentemente, saudável. Mas quando se chega ao terceiro e quarto estágio, a tipologia se altera, posto que se tem a pessoa possessiva e insegura, com transtorno mental (o ciumento) e a delirante, em que o ciúme já adquire contornos patológicos, então, já é o caso de acompanhamento e tratamento médico. Livra-nos Senhor, meu Deus, destes, posto que nos ensinas que devemos amar sim, mas sem ferir o/a outro/a, sem subjugá-lo/a ou sufocá-lo/a. Amar é saber acolher o outro, em suas falhas e limitações, reconhecendo-nos, também, incompletos e limitados. Mas, em Deus, na dimensão infinita do Seu amor, o homem se completa e se realiza com a mulher, e vice-versa. Minha oração, neste momento, é para que homens e mulheres aprendam a se amar mais,  a confiar mais um no outro, a zelar um pelo outro, mas sem se deixar impregnar pelo sentimento do ciúme que corrói e destrói, quase sempre, de forma irreparável.

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