sexta-feira, 23 de maio de 2008

ESPIRITUALIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

Há alguns anos passei a me interessar por uma tema muito interessante e instigante: não se trata - advirto - de religião ou tentativa de evangelizar pessoas nas organizações. Também o tema não está atrelado à motivação ou coisa do gênero. A espiritualidade que as pessoas sempre associavam às religiões, está hoje penetrando campos inesperados. Quando poderíamos imaginar que empresários e executivos buscassem ajuda em atividades tão diferenciadas, dentre as quais estivesse a espiritualidade? Quando poderíamos imaginar que um dia pudessem ser realizados congressos, seminários e palestras com este tema? A espiritualidade surgiu no campo do estudo das organizações e sem que pudéssemos esperar, surpreende pois aponta como uma espécie de tábua salvadora para nossas angústias atuais. É o que parece, mas a espiritualidade vem sendo semeada há muito tempo, inclusive por homens de ciência. Descortinou-se um mundo novo, provocando reflexões como esta do físico Werner Heisenberg: "será este mundo tão absurdo como nos está provando nossas pesquisas?". Esta expressão deveu-se a mudanças como esta expressada pelo físico Niels Bohr: "as partículas materiais isoladas são abstrações, e suas propriedades são definíveis e observáveis somente através de sua interação com outros sistemas". Semelhantemente aos físicos, talvez a globalização nos esteja ajudando a descobrir um mundo novo dentro das organizações. A tensão atual tem feito com que empresários e gerentes permaneçam abertos a qualquer possibilidade de ajuda. A angústia tem assolado o nosso meio. Não se podem perder oportunidades e a espiritualidade parece mostrar-se como um caminho adequado. Contudo, não há possibilidade de as organizações colherem os expressivos frutos resultantes da espiritualidade, se empresários e seus gerentes não estiverem verdadeiramente envolvidos com seus propósitos. Compreender a espiritualidade significa questionar paradigmas usuais, ver uma realidade diferente daquela de costume, encontrar formas menos sofridas de convivência, entender nossa interdependência e necessidade de ajuda mútua. Essas questões ficam veladas pela aparência das coisas, mas nas organizações tornam-se mais visíveis na medida em que nos perguntamos: "quais são as marcas da evolução das organizações inclusive empresariais? Não nos é exigido grande esforço para perceber que uma dessas marcas é a fragmentação: foco técnico de um lado e foco humano do outro, departamentos organizadamente separados, cada indivíduo na sua posição hierárquica, realizando a específica função para a qual se especializou. Isto significa que traçamos limites divisórios, mas "o resultado de tal violência, apesar de ser conhecido por muitos outros nomes, é simplesmente infelicidade", diz o bioquímico Ken Wilber. Traçar limites significa dar origem a antagonismos, inventar batalhas, fomentar competições, criar inimigos. As divisões podem até ser úteis como referenciais, mas quando as transformamos em verdades, temos como conseqüência o fomento das atitudes defensivas, as quais tendem a imobilizar uma empresa. A energia humana que poderia ser integralmente utilizada na produtividade é desviada para a prática defensiva, porque, competição significa ameaça e quem se sente ameaçado se defende. Não há separações como nos demonstram o físico Albert Einstein: "um ser humano (...) concebe a si mesmo, (...) como algo separado de todo resto, uma ilusão de ótica de sua consciência...", o filósofo e matemático Alfred North Whitehead: a "comunidade das realidades do mundo significa que cada acontecimento é fator na natureza de todos os outros..." e o mestre taoísta Lao Tsé: "Com o barro o oleiro faz o vaso, mas este só ganha significado pelo seu vazio interior. Assim são as coisas físicas, que parecem o principal, mas o valor está na metafísica". Podemos perceber claramente uma convergência entre físicos e místicos, definindo uma identificação entre espiritualidade e unidade universal. Como partes inseparáveis do universo, não somos apenas responsáveis por nós, mas por tudo o que nos cerca e por tudo o que fazemos. Por mais paradoxal que pareça, temos que aprender a cuidar de nós mesmos na medida em que cuidamos dos outros. Pode-se pensar: "como posso não estar separado, se não sinto a dor que o outro sente?" Isto é tão somente uma verdade aparente, pois ampliando nosso nível de consciência, sentiremos a dor como o outro a sente, da mesma forma que a mãe sente em relação ao filho. Fragmentar significa perder. Por exemplo, ao separar o foco técnico do foco humano, valoriza-se um em detrimento do outro, pois somente assim pode-se escolher. Toma-se o escolhido e joga-se fora o outro, despreza-se o que há de interessante no foco descartado. Por considerarem ingênuas as abordagens que se baseiam no foco humano, mesmo porque, lidar com o humano exige um preparo que empresários e gerentes negam-se a alcançar, optam pelo foco técnico e perde-se o potencial contido dentro do humano. Jesus Cristo disse: "a fim de que todos sejam um; como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós" (João 17.21). É preciso repensar as idéias fragmentadoras da realidade ou Cristo está completamente errado. São fatos que indicam que espiritualidade significa caminhar em direção à integração, à união, à unidade universal. Qual a possibilidade de começarmos a refletir sobre a ajuda que a espiritualidade pode fornecer às organizações? Precisamos entender que a espiritualidade configura-se como um caminho que nos ajuda a desenvolver a consciência de estar neste mundo de um modo responsável. Ser responsável por si mesmo significa ser responsável também pelos outros. Para tornar possível o alcance da consciência deste fato, é preciso libertar a própria essência. Está na essência de cada um o maior potencial de contribuição à disposição da sociedade, um bem deveras precioso para ser jogado fora como temos feito desde a revolução industrial. A espiritualidade pode nos ajudar a assumir nossas responsabilidades perante a vida em todos os sentidos, dos quais a responsabilidade profissional é apenas uma. A espiritualidade - ou seja a percepção espiritual do ser - me conduz ao entendimento do compartilhamento, da comunhão, de atos de doação, enfim, de mais generosidade e mais amor. Os resultados são visíveis: as pessoas se sentem partes de um corpo e este corpo atuando de forma sadia impusiona cada uma das partes a atitudes que solidifiquem o ser, o todo, o conjunto, o corpo. Em assim fazendo, ao atuar pensando nas outras partes do todo, sou beneficiado, pois também sou uma das partes. Como todos passam a pensar como eu, TODOS GANHAM!